quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A flor.

Quando a mãe e a família souberam que iria vir ao mundo uma menina, nada mais típico do que comprar tudo rosa e esperar noite e dia para ver o rosto daquela que seria a princesa da família por um bom tempo.
Tudo seguiu seu rumo, a bebêzinha cresceu e virou uma menina, toda enfeitada, rodeada de bonecas, brinquedos que traziam o mundo adulto em miniatura, laços, vestidos rosas, flores...tudo aquilo que é sugerido ao universo infantil feminino.
Mas ela não era uma menina muito padrão. Quando a mãe viu que não adiantava colocar saias, vestidos e "frufrus", deixou ser como a filha queria.
As bermurdas tomaram o lugar das saias, as camisetas largas tomaram o lugar das blusas com rendas e o cabelo demoraria a ficar solto, a menina que foi criada tão tipicamente queria era mais brincar e andar como um menino!
Subia em árvores, tirava a roupa para nadar no rio, desafiava os meninos no jogo de bolinhas de gude, ganhava as partidas de tazzo e aos poucos foi se desapegando do universo feminino. Se sentia mal quando ia pular corda e via que era a mais descordenada da turma. Resolveu que ia jogar futebol, pular muros, comer frutas em cima da árvore, nisso sim ela era boa!
Mas seu corpo obedeceu a natureza e começou a tomar formas de mulher. Ela foi a primeira a desenvolver seios, mas estavam tão escondidos embaixo da camiseta larga, que ninguém, além de sua mãe e sua avó, havia notado a existência deles. Sua avó insistia que tinha que usar sutiã, mas a menina moleca queria mais era saber de soltar pipa. Enquanto as outras queriam saber de dar o primeiro beijo.
Mas não demorou para alcançar a adolescência e sua feminilidade aflorar, via-se nitidamente que embaixo daquela marra toda estava por vir uma mulher linda.
Mudou de colégio, saiu da bagunça da escola pública e "caiu de gaiato" em uma escola particular.
No começo ainda era nítida a diferença entra a menina desajeitada e as outras, o uniforme era o mesmo bermuda azul e blusa branca, que ela adorava, diga-se de passagem, pois ela podia usar o bermudão e blusa larga que tanto gostava, mas enquanto as outras meninas prendiam os cabelos com lacinhos rosas, tênis coloridos, cadernos de bichinhos, a nossa menina quase mulher ainda queria tudo do mais básico e tênis preto.
Mas o tempo passou e a menina foi tomando mais formas de mulher ainda, sua beleza já era difícil de esconder, suas roupas, começaram a não ser tão largas, nem tão azuis, seus cabelos começaram a ser presos de maneira diferente, os perfumes foram ganhando espaço, as maquiagens e consequentemente, o interesse dos meninos começou a ganhar espaço na vida daquela que estava finalmente virando uma bela mulher.
E o botão de rosa abriu, exalando seu perfume, sua graça e suas qualidades.
A menina que antes tinha interesse em apenas coisas que não pertenciam ao seu universo, passou a querer invadir o universo que desde antes de nascer lhe esperava.
O espelho já não era apenas o seu reflexo sem graça, ele virou seu aliado e refletia o quão mulher ela havia tornado-se.
Então como era esperado, o que estava dormindo despertou.
Como uma mulher apaixonou-se e desde então esqueceu como era ser um menino, a não ser pelo lado brincalhão que nunca deixou de ser seu ponto forte.
Ainda tenta lembrar como era a época "masculina" para entender o que passa na cabeça dos homens, mas já não quer ser um.
Hoje ela é uma mulher em todos os sentidos e com sua feminilidade flori os cantos que passa e vive tua vida com o toque sutil que só uma flor possui, mas nunca esquecendo que sua alma de menino dá base para continuar a ser uma eterna criança.

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